A primeira publicação do livro A Criança e o Seu Mundo foi em 1964. O conceito de "Maternidade de Alta Performance" surgiu na última década.
Donald Woods Winnicott, pediatra e psicanalista inglês foi peça fundamental para o que se sabe hoje sobre desenvolvimento infantil. Uma de suas maiores contribuições foi sobre a teoria da mãe "suficientemente boa”.
Na introdução desse livro, Winnicott defende que os melhores instintos maternos surgem da confiança natural nos próprios recursos. Ressaltando que há coisas que precisam ser aprendidas e há coisas que acontecem naturalmente. O que uma mãe ou um pai faz de forma intuitiva, sem pensar, é fruto dessa confiança na relação com o bebê.
Ele defende a ideia de que para ser uma boa mãe ou um bom pai, não é necessário conhecimento teórico, cursos ou livros que vão explicar como ou o que fazer para ser um bom cuidador. O que realmente importa, segundo Winnicott, para que estes bebês se convertam em adultos emocionalmente saudáveis, é o que ele chama de bom princípio: o vínculo genuíno entre pais e bebês. Esse vínculo se chama amor - no sentido de uma força primitiva, de uma conexão generosa entre a dupla.
A solidão da parentalidade moderna
Mas os tempos mudaram. A evolução da sociedade nos conduziu ao cenário atual de núcleos relacionais cada vez mais reduzidos, famílias menores, avós e os avôs ainda no mercado de trabalho, redes de apoio cada vez mais limitadas...Tudo isso trouxe como consequência quase natural uma maternidade/paternidade muito solitária.
Além disso, temos o fato de que exercer o papel social de pai ou mãe vem deixando de ser uma imposição, tornando se mais uma das escolhas que se faz na vida adulta e, caindo no campo das escolhas, é natural que junto a decisão de ter um filho venha o desejo de fazer o melhor para ele - uma pressão que, muitas vezes, se transforma na busca pela alta performance.
Em uma sociedade que valoriza, exalta e vende a ideia da alta performance, especialmente nas redes sociais, não é de se estranhar o fato de a cada dia surgirem novos cursos, livros, palestras, coaching para todos os aspectos da maternidade/paternidade cujos especialistas pretendem ensinar como criar filhos "bem-sucedidos". Intitulado por “Ensine Seu Filho a Dormir”, “Como Ensinar o Seu Filho a Falar”, Ensine Seu Filho a Comer”, “Aumente o QI de seu filho”, “Maternidade de Alta Performance” – soam como promessas que alimentam uma sensação de que existe um jeito certo e que, sem um especialista, os pais não darão conta.
Aqui, a questão não é sobre os cursos em si. Eles podem ser úteis, especialmente quando há dificuldades reais. O problema surge quando estes cursos vêm antes mesmo das dificuldades e substituem a intuição - colocando os pais num lugar de insegurança - ou quando os profissionais têm pouca escuta às demandas das famílias e se colocam no papel de autoridade.
Quantas mães já se sentiram culpadas porque o bebê não dormiu "como deveria"? Quantos pais se angustiaram porque o filho não falava o número de palavras esperados para determinada idade, ou não falou na idade certa, segundo algum manual? Essa busca incessante por fazer tudo "certo" pode, ironicamente, afastar os pais do que Winnicott chamou de "provavelmente o melhor método": o fazer intuitivo.
Os pais que, genuinamente desejam o melhor para os seus filhos, se colocados num lugar em que tudo o que eles sabem é desconsiderado e é o outro o detentor do saber, podem se sentir desautorizados.
Que a cultura da alta performance não coloque fragilize a confiança dos pais, deixando os em um lugar de vulnerabilidade. Que eles tenham consciência do valor das pequenas interações diárias com seus bebês, da importância do "vínculo entre ambos, que é a essência e a própria natureza do cuidado materno".
Obrigada por ler até aqui! Se esse texto fez sentido para você, se você já sentiu que a pressão por fazer tudo certo afetou sua intuição com mãe ou pai, deixe seu comentário, vou adorar saber sua opinião. E se você conhece outros pais que possam estar passando por isso, compartilhe com eles.
Um beijo,
Fga. Thais Tiano
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